Como As Tragédias Diárias Vividas Nas Ruas do Brasil Nos Ensinam Sobre Jornalismo

Pedro Augusto Silva
3 min readFeb 14, 2019

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A Escola Base, caso de estudo obrigatório para qualquer estudante de comunicação, parece não ter ensinado o tanto que deveria para toda a classe, que apesar do advento tecnológico e globalização incontroláveis, continuam falhando em um dos pontos principais da profissão: a investigação e apuração dos casos. O custo é caro, estabelecendo na sociedade um sentimento de desamparo. Somos também culpados por isso, há sangue em nossas mãos.

A ganancia de grandes corporações brasileiras, alinhadas ao governo federal omisso e à mercê dessas empresas já deveria por si só acionar um alerta em nós, já que muitas vezes os órgãos regulatórios são tão corrompidos quanto qualquer outra instituição brasileira. O nosso “jeitinho” mata. Tivemos uma tragédia em Mariana, que gerou comoção nacional, que foi extremamente agressiva ao meio ambiente, que levou vidas junto ao mar de lama que praticamente matou a cidade. Depois disso, foi feita uma varredura em documentos, concessões, laudos, com intuito de achar irregularidades que, sejamos francos, sempre soubemos que existiam. O jornalismo chegou depois da tragédia, não trouxe à tona toda a barbárie que claramente aconteceria, não expôs o que havia de errado em uma obra que gira um capital milionário. O jornalismo também destruiu a vida dessa cidade.

O tempo passou e a revolta também. Nos critérios de noticiabilidade, Mariana não era mais destaque, apontamos os erros e os culpados, nossa missão estava cumprida.

Seguimos.

Aí vem Brumadinho, poucos anos depois de Mariana. Com enredo exatamente igual e com a mesma vilania. Todos os erros cometidos novamente, onde nós estávamos que não investigamos as condições dessas barragens. Onde estávamos quando Mariana foi ignorada sem solução, abrindo precedentes ENORMES para investigarmos outros potenciais erros espalhados pelo Brasil? Nós não deveríamos ser os últimos a saber, o jornalismo parece esperar de braços cruzados a tragédia acontecer.

Clubes de futebol possuem setoristas (profissionais fixos cobrindo o dia a dia do clube) que vivem todas as nuances de um time de futebol. Correm atrás de jogador, técnico e dirigente, adiantam informações sobre reforços, além de acompanharem os bastidores políticos das agremiações. Tudo, exatamente tudo, é apurado por essa equipe. Mesmo com esse olhar minucioso, a tragédia do incêndio no Ninho do Urubu aconteceu sem que ao menos fosse cogitada que as instalações dos clubes de futebol podem trazer malefícios aos seus funcionários. Nada saiu pela imprensa esportiva sobre alojamentos das categorias de base, alimentação, cuidados. Não achem que por ser futebol de base, a cobertura não ocorre. Clubes como o Flamengo disputam grandes torneios, montam grandes times e possuem grande apresso pela base, pelo menos no discurso.

Se em clube grande não foi diagnosticada irregularidades em suas instalações, imagine você como deve ser a situação de clubes do Sergipe, Tocantins, por exemplo. Todos os anos é disputada a Copa São Paulo (competição da categoria Júnior) e histórias bizarras são abordadas como demonstração de superação, garra. Garotos de até 20 anos viajam dias em ônibus caindo aos pedaços, repousando em alojamentos que nem se comparavam ao Ninho, por exemplo. Enquanto isso, não são levantados questionamentos para as Federações, que deveriam, ao menos, auxiliar os clubes menores, de realidade adversa à Flamengo, Palmeiras, São Paulo. Onde estava a Prefeitura do Rio de Janeiro que não atuou com rigidez cobrando alvarás de funcionamento dessa grande construção que foi a do CT do Flamengo. E nós, que convivemos todos os dias nos clubes, não ousamos estranhar de um alojamento em área destinada a ser estacionamento?

Seja no esporte, seja no Meio Ambiente ou no cotidiano, vamos atrás apenas das causas, nunca das prevenções. Quantas obscuridades que nunca saberemos, que pela sorte não acontecerão? Quantas vidas ainda serão ceifadas pelo descaso governamental e pela apatia jornalística? Nossos olhos pairam superficialmente sobre essas tragédias, depois viramos as costas à espera de outra que virá. É um ciclo maldito. Algo que Ricardo Boechat brilhantemente apontou em seus últimos dias de vida, antes de ser vítima de toda essa inércia fiscalizatória no Brasil. Descanse em paz!

Assuma sua parcela de culpa, jornalismo.

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o tudo que se tem não representa nada.

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